quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Manguezal

Ecossistema chamado Manguezal

O que é um manguezal?
Popularmente chamado de mangue, caracteriza-se por ser terreno baixo, constituído de vasas (lama) de depósitos recentes junto à costa. Mangue também é a designação de árvores, ou conjunto de árvores arbustos e gramíneas - (plantas halófitas), que habitam regiões justamarítimas sujeita a marés, nos trópicos, em áreas quentes e úmidas. Ecossistema costeiro, de transição entre os ambientes terrestre e marinho, apresentando terreno pantanoso, localizando-se em margens de lagoas, portos, desaguadouros dos rios, lagunas e reentrâncias costeiras onde haja encontro de águas de rios com a do mar, ou diretamente expostos à linha da costa. (Dic. Michaelis, 2011; Lacerda et al, 2011; Costa, 2011; FERREIRA, 2009; GERRA, 1997; SUGUIO, 1998.)

Regiões no mundo  - Os manguezais ocorrem em regiões costeiras, ao seu longo, entre as latitudes 35º.N e 38º.S. Do total de manguezais no mundo, os da América Latina e Caribe representam em torno de 29%, Africanos, 23% e os Asiáticos (região Indo-Pacífica) em torno de 48%. As regiões biogeográficas são: Oeste e Leste das Américas, Oeste e Leste da África, Indo-Malásia e a Australásia.  Estima-se que 70% das zonas costeiras tropicais e subtropicais sejam cobertas por manguezais, correspondendo a aproximadamente 15 milhões de hectares em todo o mundo. (REZENDE, 2009).

Manguezais no BrasilNo Brasil os mangues localizam-se de forma descontínua ao longo da costa, sendo o limite norte no Oiapoque, Estado do Amapá, a 04º.30’ N, e o limite sul em Laguna, a 28º.39’S. Os estados com maior área de manguezal são o Pará, Amapá, Maranhão e Bahia. Existem aproximadamente 172 000 km² de manguezais, deste, cerca de 15%, cerca de 26.000 km², distribuem-se pelo litoral do Brasil, desde o estado do Amapá até Laguna, em Santa Catarina. Em Pernambuco existem cerca de 270 quilômetros quadrados de manguezais, na Paraíba, cerca de 160 quilômetros quadrados. O Maranhão detém 85% dos manguezais da região norte-nordeste, o que equivale a 500 mil hectares. A ilha de Fernando de Noronha é a possuidora da menor extensão de manguezal no país. (REZENDE, 2009; COSTA, 2011)

Solo  -  O solo é uma espécie de lama escura e mole. (Ferreira, 2009, pg. 1266).  Os substratos desses ambientes são, em geral, lamosos e ricos em matéria orgânica. (SUGUIO, 1998).  O solo do manguezal caracteriza-se por ser úmido, salgado, lodoso, pobre em oxigênio e muito rico em nutrientes. Por possuir grande quantidade de matéria orgânica em decomposição, por vezes apresenta odor característico, mais acentuado se houver poluição. Essa matéria orgânica serve de alimento à base de uma extensa cadeia alimentar, como por exemplo, crustáceos e algumas espécies de peixes. O solo do manguezal serve como habitat para diversas espécies, como caranguejos. (COSTA, 2011). Diferentes espécies de mangues (vegetação) toleram diferentes graus de acidez e condições anaeróbicas dos solos, fator que influencia naturalmente a distribuição e zonação das espécies de árvores em cada local. Os animais cavadores (caranguejo, lagostas de mangue) contribuem para a oxigenação do solo ao formarem galerias subterrâneas. No solo, a biomassa radicular pode ser considerável e mesmo superior à que está acima do solo, contribuindo para a retenção e absorção das águas intersticiais e de marés. A maioria dos materiais depositados é compactada pelo movimento das marés e a estratificação se desenvolve em função da ação mecânica, além da atividade química bacteriana, tornando este solo deficiente em oxigênio ou mesmo anóxico, e o Ph pode se tornar muito baixo. Os solos mais altos dos mangues, acima do nível da maré, tornam-se ácidos, aos poucos, em virtude da redução de sulfetos a sulfatos e conseqüente formação de ácido sulfúrico. O ciclo do carbono, nitrogênio, fósforo, silício, magnésio, sódio, cobalto, enxofre, ferro, molibdênio entre outros, não são ainda conhecidos integralmente. (para maiores estudos pode ser consultado Manual sobre o Papel dos Microrganismos na Ciclagem de Nutrientes em Solos e Águas de Manguezais (Manual of the of Role of Micro-organisms in Nutrient Cycling of mangrove Sois and Waters, 1988 – Projeto UNESCO para Ásia e Pacífico)). Pouco também se conhece sobre a microbiologia dos solos  e águas dos manguezais.  (VANUCCI, 2002).

A água  -  São ricas em animais detritívoros, e dos que se alimentam de organismos do fundo – tanto herbívoros como carnívoros. Seus nichos ecológicos são frequentemente determinados pelo tamanho das partículas que filtram da água e usam como alimento.  As larvas de camarões peneídeos são transportadas com a maré enchente e se agarram a qualquer suporte no fundo dos riachos na vazante. Vários peixes anádronos desovam nos manguezais, enquanto que alguns adultos se alimentam nos manguezais e migram para outros lugares para a desova. Os sirênios, mamíferos representados pelos dugongos na Àsia e pelo peixe-boi nas Américas, pastam a macroflora das águas doces e salobras. Seguem-se na rede trófica os seres ictiófagos e outros carnívoros, como as lontras, golfinhos e algumas aves, como a águia dos mangues. (VANUCCI, 2002).

O fitoplâncton - (diatomáceas, flagelados e microflagelados), é escasso nas águas interiores dos manguezais, aumentando à medida que segue em direção aos estuários e mar, conforme vai recebendo luz solar o nível de absorção de CO2 iguala-se à produção de oxigênio. A água do mar traz nutrientes que se completam com os elementos que vem da terra. Nas águas de pântano ocorrem mais quimiossíntese do que fotossíntese devido à escassez de oxigênio nestes ambientes. Quando o manguezal apresenta pouca quantidade de florestas e pouco material terrígeno, maior será a quantidade de água do mar na composição, fator que leva a uma água mais transparente, como é o caso dos mangues de Cuba e da maioria das ilhas do Caribe e em ilhas oceânicas. Nestes locais, a salinidade é bastante alta, permitindo que esponjas, hidróides, cracas anêmonas-do-mar e até mesmo algas desenvolvam-se nestes ambientes. As águas que fluem dos manguezais apresentam quantidades de matéria orgânica dissolvida (MOD), na forma de nutrientes: nitratos, nitritos, fosfatos, silicatos e elementos-traços, e também elementos químicos nocivos, tais como flavonóides, ácidos tânicos e derivados, os quais lhes dão a coloração marrom-ferruginosa. Estas águas devem ser vistas como um grande caldeirão em que um caldo altamente nutritivo é fermentado de forma muito eficiente por uma flora bacteriana muito ativa. (VANUCCI, 2002).

Vegetação  -  Em virtude do solo salino e da deficiência de oxigênio, nos manguezais predominam os vegetais halófilos, em formações de vegetação litorânea ou em formações lodosas. As suas longas raízes permitem a sustentação das árvores no solo lodoso. Os manguezais são encontrados ao longo de todo o litoral brasileiro, onde as principais espécies de árvores típicas deste bioma são:
• Rhizophora mangle (mangue-vermelho) – próprio de solos lodosos, com raízes aéreas;
• Laguncularia racemosa (mangue-branco) – encontrado em terrenos mais altos, de solo mais firme, associado a formações arenosas;
• Avicennia schaueriana (mangue-preto, canoé);
• Conocarpus erectus (mangue-de-botão). (COSTA,2012)

A hidrodinâmica do fluxo de água doce e salgada determina a zonação e desenvolvimento estrutural da cobertura vegetal. (LACERDA et al, 2012). A fragmentação mecânica das folhas dos mangues e outros materiais vegetais pelos animais do manguezal (caranguejo, jacarés, lontras), é muito importante porque as plantas de manguezal são xerófitas fisiológicas, permitindo desta forma que elas se deteriorem. Aproximadamente 62 espécies de 7 híbridos de plantas de mangue são reconhecidas, a maioria encontrada no Velho Mundo. (Duke, 1992, apud REZENDE et al, 2009). A estrutura dos manguezais é relativamente simples quando comparada a outros tipos de florestas. O número de estratos é frequentemente reduzido a um dossel principal. Próximos ao Equador são encontrados manguezais com melhor desenvolvimento estrutural, isto devido à abundância de chuvas, temperatura e amplitude das marés são mais elevadas, baixa razão entre a precipitação e evaporação e a variação sazonal do clima é reduzida. No Maranhão, por exemplo, as árvores podem atingir até 45 m de altura e excederem 80 cm de diâmetro. (REZENDE et al, 2009).

Ciclo de Maré - O processo hidrológico de marés exerce papel determinante na estrutura e funcionamento dos manguezais, controlando a biogeoquímica das florestas e definindo períodos distintos de atividade metabólica. Ao subir a maré o oxigênio fornecido pela atmosfera é interrompido com os organismos aeróbicos esgotando-o, tornando-se quiescentes. O meio sedimentar torna-se anaeróbico com pequenas zonas aeróbicas em volta das raízes, proliferando-se os organismos anaeróbicos por utilizarem os compostos de carbono como substrato e o oxigênio presente no sulfato das águas de inundação como aceptor de elétrons na respiração. Este processo gera uma reação química que libera grande quantidade de compostos para as águas intersticiais e de inundação, que com a maré vazante parte destes compostos é transferida para o sistema costeiro adjacente. O fluxo de maré provoca uma troca de materiais entre o sedimento e o sistema hídrico, onde as interações deste processo acontecem por meio da “ressuspensão” e “advecção e difusão”. (REZENDE et al, 2009).

Fauna - Nesses ecossistemas se alimentam e reproduzem mamíferos, aves, peixes, moluscos e crustáceos – macacos, garças brancas, jacarés, caranguejos, lontras, dogongos, golfinhos, peixes-boi, rãs, cobras-d’água, tartarugas, gato-do-manguezal, dentre outros peixes, anfíbios, mamíferos, répteis e aves.  (VANUCCI, 2002; COSTA, 2012)

Tipos de Manguezal – Estuário - Um estuário é um corpo d´água semicercado pelo continente, que apresenta uma conexão livre com o oceano aberto e no qual a água do mar é mensuravelmente diluída com a água doce derivada da drenagem continental.  O Estuário é um tipo de ambiente que gera uma grande variação dos parâmetros físico-químicos, a partir da mistura das massas d’água de densidades diferentes. A matéria orgânica presente no estuário contribui para a produtividade primária na zona costeira.  (LACERDA et al, 2012).

Tipos de manguezal - Pântanos - Porção de terreno, junto às margens dos pequenos e grandes cursos d'água, coberto de vegetação e uma delgada camada de águas paradas. (Dic. Michaelis, 2012).

Aspectos antrópicos - Impactos ambientais - Os principais fatores que causam alterações nas propriedades físicas, químicas e biológicas do manguezal são:
• Aterro e Desmatamento
• Queimadas
• Deposição de lixo
• Lançamento de esgoto
• Lançamentos de efluentes industriais
• Dragagens
• Construções de marinas
• Pesca predatória

De acordo com Schaeffer-Novelli & Cintron-Molero (1993) apud Lacerda (2012), os manguezais afetados por derramamento de petróleo, substituídos por salinas e utilizados em projetos de aqüicultura têm pouca ou nenhuma probabilidade de recuperação, em decorrência da grande alteração estrutural, mudança de pH do sedimento, e drenagem do terreno. (LACERDA et al, 2012). O esgoto tratado, assim como os fertilizantes podem ser benéficos para a vegetação, entretanto, o esgoto, industrial principalmente, geralmente contém substâncias nocivas, inclusive metais pesados, os quais podem ser lixiviados para áreas costeiras, absorvidos e imobilizados nos tecidos de espécies marinhas que servem de alimentos, como os bivalves, por exemplo. (VANUCCI, 2002).

Importância no ecossistema marinho  -  Os manguezais constituem formações de reconhecida riqueza, tendo um papel importante na regulação do meio ambiente e um alto valor econômico, sendo um dos ambientes mais específicos e importantes que existem. Este ecossistema é extremamente produtivo e para além do que produz, transforma matéria orgânica a qual é transferida para os outros ecossistemas, nomeadamente os recifes de coral e tapetes de ervas marinhas. É também um sistema que tem funções de "limpeza" da água que é drenada da terra para o mar (até uma determinada capacidade filtra elementos como toxinas, químicos, hidrocarbonetos, etc.). O manguezal é importante na prevenção da erosão da costa e das margens dos rios, na redução das cheias e na reprodução das espécies marinhas, como é o caso do camarão. Constituem fontes de medicamentos, material de construção, alimento (peixe, outros mariscos, frutos, etc.), combustível lenhoso, entre outros usos. (CDS, 2012)
Nas profundezas de florestas de manguezal os produtores primários mais importante são as árvores da floresta, que são os responsáveis pela produtividade da rede trófica do manguezal, devido à reciclagem de detritos. Longe da costa, além da plataforma continental e insular, e a profundidade de 2 mil metros, encontrou-se material de mangues e de gramíneas marinhas fazendo parte do conteúdo estomacal da fauna bêntica. (VANUCCI, 2002). Os manguezais juntos com os alagados marinhos “provavelmente” desempenham um significante papel no ciclo global do carbono, observação esta que ganha relevância especial diante do fato que os ecossistemas da zona entremarés estão sofrendo uma rápida destruição. 21% da população mundial vive em uma distância de até 30 km da costa, realizando diversas ações antrópicas prejudicando diretamente os manguezais. Se o nível do mar aumentar, a sucessão natural dificilmente se sustentará e a destruição das áreas alagadas tem sido estimada em 50% do que existia no mundo no ano de 1900. (REZENDE, 2009). Os manguezais funcionam como estoque de matéria orgânica e cerca de 50% da produtividade primária é exportada para os oceanos na forma de matéria orgânica, fator este que potencializa a atividade microbiana nas zonas entremarés e na plataforma continental, refletindo-se numa das maiores fontes de nitrogênio na forma reduzida para os oceanos. (REZENDE, 2009).
Curiosidades - Os manguezais têm se tornado cada vez mais familiar nos aquários marinhos e refúgios. No entanto, apesar desse crescimento do seu uso no hobby, ainda são pouco compreendidos. A biodiversidade dos manguezais se traduz em significativa fonte de alimentos para as populações humanas.

REFERÊNCIA
CDS - Centro de Desenvolvimento Sustentável para as Zonas. Ecossistemas.  MICOA Ministério para a Coordenação da Acção.  Disponível em: <http://www.zonascosteiras.gov.mz/article.php3?id_article=13> acessado em 16/02/2011m as 21:17 hrs.

COSTA, Denis. Sistema de mangues no aquarismo marinho. AquaBahia. Disponível em:

FERREIRA, Aurelio B. de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 4ª. Ed. Curitiba : Editora Positivo, 2009.
__________. Novo Aurélio Século XXI: o dicionário da língua portuguesa. 3ª. Ed. –Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 1999.
GERRA, Antonio Teixeira. Novo Dicionário geológico-geomorfológico. Rio de Janeiro :Bertrand Brasil 1997.
Lacerda, L.D.; Mounier, S.; Marins, R.V.1 & Paraquetti, H.H.M.  Distribuição de mercúrio em águas superficiais e intersticiais do manguezal do estuário do Rio Pocoti, Ceará.  Instituto de Ciências do Mar (UFC). Fortaleza, CE; Université de Toulon et Du Var. France; Depto. de Geoquímica (UFF). Niterói-RJ. Disponível em: <http://scholar.googleusercontent.com/scholar?q=cache:fYx8CgWIu-sJ:scholar.google.com/+manguezal&hl=pt-BR&as_sdt=0,5> acessado em 16/02/2012, as21:30 hrs.
REZENDE, Carlos Eduardo et al. Ecologia e Biogeoquímica de Manguezal (Cap. 15). PEREIRA, Renato C.; SOARES-GOMES, Abílio. (org(s)). Biologia Marinha. 2ª. Ed. – Rio de Janeiro : Interciência, 2009.
SUGUIO, Kenitiro. Dicionário de geologia sedimentar e áreas afins. – Rio de Janeiro : Bertrand Brasil. 1998)
VANUCCI, Marta. Os manguezais e nós: uma síntese de percepção. 2ª. Ed.- São Paulo : Editora da Universidade de São Paulo. (e-books). Disponível em: http://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=fqjBxkbwUtkC&oi=fnd&pg=PA12&dq=o+manguezal&ots=akp1D_tPWp&sig=r9CTc3U4KBxbWJopXWWt5vLX_h4#v=onepage&q=o%20manguezal&f=false> acessado em 17/02/2012, as 11:05 hrs.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

BIOINVASÃO MARINHA

Bioinvasão é “o ato ou efeito de um ou mais organismos invadirem e se estabelecerem em ambientes onde não haviam registros anteriores para a espécie.” (SOUZA et al, 2011). Nos últimos dois séculos vem surgindo uma nova biogeografia marinha, mudando a distribuição de espécies nos mares do planeta. Existem dois tipos de invasão de uma espécie para uma área onde não existiam: a) expansões, que ocorrem naturalmente, e as introduções, que ocorrem por atividades humanas intencionais ou não.

Terminologia, segundo Souza et al (2011), retirado de Falk-Petersen et al, 2006; MMA (no prelo); Carlton, 1996; e Elliott, 2003):
a) Nativa, indígena, original -  espécie que ocorre dentro da sua área de distribuição natural, na qual se estabeleceu sem a intervenção de atividades humanas;
b) Endêmica - espécie nativa restrita a uma região ou localidade específica;
c) Criptogênica  - espécie de origem biogeográfica desconhecida ou incerta, este termo deve ser empregado quando não existe uma evidência clara de que a espécie seja nativa ou exótica;
d) Exótica, introduzida, não nativa, não indígena, alienígena - espécie que se encontra fora da sua área de distribuição original, tendo sido transportada por atividades humanans em tempos históricos. Estão incluídos ovos, sementes, esporos, cistos, etc. com capacidade reprodutiva;
e) Contida - espécie exótica que ocorre apenas em ambientes artificiais ou sob controle total ou parcial. Exemplo: aquário comercial, aquicultura, cultivos científicos, tanques de lastro, etc.;
f) Detectada  - registro isolado de uma espécie exótica em ambiente natural sem aumento de abundância e/ou dispersão ou sem informações de ocorrência posterior;
g) Estabelecida - espécie introduzida detectada de forma recorrrente em uma área onde não ocorria, com população autossustentável e indícios de aumento populacional;
h) Naturalizada - espécie exótica estabelecida, que interage com as demais espécies;
i Invasora ou invasiva - quando a espécie estabelecida possui abundância e/ou dispersão geográfica que interfere na capacidade de sobrevivência das demais espécies em uma área específica ou em uma ampla região geográfica;
j) Invasora ou potencial - qualquer espécie enquadrada nas categorias "contida", "detectada" ou "estabelecida", sendo, portanto, uma invasora em potencial;
k) Fase de latência - período necessário para que uma espécie, sob determinadas condições, se adapte, passe a reproduzir e a disseminar-se;
l) Nociva ou peste - espécie invasora responsabilizada por danos causados ao ambiente, à biota local, à saúde humana e/ou à economia;
m) Vetor - meio pelo qual uma espécie é transportada de um local para outro;
n) Vetor potencial - provável vetor de introdução de uma espécie;
o) Rota de invasão - trajetória pela qual ocorreu o transporte de uma espécie introduzida, desde a área doadora até a receptora ou do local de origem até o destino.

Vetores da bioinvasão – denomina-se vetor àquele meio que serve de veículo para transporte de espécie(s) de um local doador para um local receptor. São vetores, segundo Souza et al (2009), retirado de CARLTON, 2001: navios, plataformas, diques secos, bóias de navegação e flutuantes, aviões-anfíbio e hidroaviões, canais, aquários públicos, pesquisa (científica ou não), detritos marinhos flutuantes, pesca, inclusive aqüicultura marinha (maricultura), aquários domésticos, restauração, educação (pelo descarte de espécies após uso em aula prática), equipamentos de recreação.

Vetores potenciais de introdução de organismos no ambiente marinho brasileiro, segundo Souza et al (2009), retirado do MMA, no prelo):


GruposVetores Potenciais
BiológicosÁgua de LastroMariculturaHomemCorrentes marinhasOrganismo marinhoAquariofiliaIncrustaçãoBóias de navegaçãoPlataformasCultivo científicoEmbarcações de recreaçãoEscape de cultivo
Bactérias pelágicas
x

x

x







Fitoplâncton
x
x










Zooplâncton
x


x








Macroalgas
x
x










Zoobentos
x
x

x
x
x
x
x
x
x
x
x
Ictiofauna
x












 Quadro 01 – Vetores potenciais e Grupos biológicos
Fonte:Souza et al (2009)

A bioinvasão pode ser utilizada em estudos ecológicos para analisar as interações biológicas em populações e comunidades, e em estudos biogeográficos para compreender os padrões de distribuição da biodiversidade.

No Brasil – a bioinvasão pode ser separada em três fases: até o século XIX, século XX e a partir do século XXI, segundo Souza et al (2009):

SÉCULO XXI
- Mytilopsis leucophaeta, Tubastraea tagusensis, Tubastraea coccinea, Pseudopolydora achaeta,
   Myoforceps aristatus (2004)
- Phyllopodopsyllus setouchiensis (2002-2003)
- Bostricobranchus digonas, Omobranchus punctatus, Scrupocellaria diadema, Pseudopolydora diopatra,
  Polybius nabigator (2002)
- Derbesia turbinata, Derbesia tenuissima, Cladophora submarina, Chaetomorpha spiralis, Caulerpa
  nummularia (2001-2002)
- Leptocaris trisetosus, Halicyclops venezuelaensis, Leptocaris gurneyi, Apocyclops panamensis (2001-
   2002)
- Sphaeroma serratum, Caulerpa sc alpelliformis (2001)
SÉCULO XX
- Acanthurus monroviae, Pseudopolydora paucibranchiata (1999)
- Pilumnoides perlatus, Heniochus acuminatus, Butis koilomatodon, Paracyclopina longifurca (2000)
- Poydora cornuta, Boccardiella bihamata, Kappaphycus alverezii, Gymnodinium catenatum,
   Rhithropanopeus harrisii (1998)
- Anotrichium yagii (1997-98)
- Alexandrium tamarense, Taliepus dentatus (1996)
- Metapenaeus monocerus, Charybdis hellerii, Polydora nuchalis (1995)
- Isognomon bicolor, Pseudopolydora antennata (1994)
- Amphibalanus retuculatus (1990)
- Chromonephthea braziliensis (Década de 1990)
- Pyromaia tuberculata, Bellia picta (1989)
- Penaeus monodon (1987)
- Porphyra suborbiculata (1985)
- Coscinodiscus wailesi, Litopenaeus stylirostris, Pleopis schmackeri, Apocyclops borneoensis, Scylla
   serrata (1983)
- Chirona (Striatobalanus) amaryllis (1982) Temora turbinata (Década de 1980)
- Pseudodiaptomus trihamatus (1977)
- Litopenaeus vannamei (1971-72)
- Megabalanus coccopoma (1974)
- Crassostrea gigas (1970)
- Dasya brasiliensis (1963)
- Ciona intestinalis (1958)
- Ascidia sydneiensis (1956)
- Cancer pagurus (1930)
DESCOBRIMENTO DO BRASIL
- Vibrio cholerae 01 (1852, 1959, 1991, 1999)
- Styela plicata (1883)
- Perna perna (Séc. XVIII-XIX)

Por: Adelaide M. B.

REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA

SOUZA, Rosa Cristina C. L. de.; FERREIRA, Carlos Eduardo L.; PEREIRA, Renato Crespo. Bioinvasão Marinha. In: PEREIRA, Renato Crespo (Org.). Biologia Marinha. 2ª. Ed. – Rio de Janeiro : Interciência, 2009.