sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

BIOINVASÃO MARINHA

Bioinvasão é “o ato ou efeito de um ou mais organismos invadirem e se estabelecerem em ambientes onde não haviam registros anteriores para a espécie.” (SOUZA et al, 2011). Nos últimos dois séculos vem surgindo uma nova biogeografia marinha, mudando a distribuição de espécies nos mares do planeta. Existem dois tipos de invasão de uma espécie para uma área onde não existiam: a) expansões, que ocorrem naturalmente, e as introduções, que ocorrem por atividades humanas intencionais ou não.

Terminologia, segundo Souza et al (2011), retirado de Falk-Petersen et al, 2006; MMA (no prelo); Carlton, 1996; e Elliott, 2003):
a) Nativa, indígena, original -  espécie que ocorre dentro da sua área de distribuição natural, na qual se estabeleceu sem a intervenção de atividades humanas;
b) Endêmica - espécie nativa restrita a uma região ou localidade específica;
c) Criptogênica  - espécie de origem biogeográfica desconhecida ou incerta, este termo deve ser empregado quando não existe uma evidência clara de que a espécie seja nativa ou exótica;
d) Exótica, introduzida, não nativa, não indígena, alienígena - espécie que se encontra fora da sua área de distribuição original, tendo sido transportada por atividades humanans em tempos históricos. Estão incluídos ovos, sementes, esporos, cistos, etc. com capacidade reprodutiva;
e) Contida - espécie exótica que ocorre apenas em ambientes artificiais ou sob controle total ou parcial. Exemplo: aquário comercial, aquicultura, cultivos científicos, tanques de lastro, etc.;
f) Detectada  - registro isolado de uma espécie exótica em ambiente natural sem aumento de abundância e/ou dispersão ou sem informações de ocorrência posterior;
g) Estabelecida - espécie introduzida detectada de forma recorrrente em uma área onde não ocorria, com população autossustentável e indícios de aumento populacional;
h) Naturalizada - espécie exótica estabelecida, que interage com as demais espécies;
i Invasora ou invasiva - quando a espécie estabelecida possui abundância e/ou dispersão geográfica que interfere na capacidade de sobrevivência das demais espécies em uma área específica ou em uma ampla região geográfica;
j) Invasora ou potencial - qualquer espécie enquadrada nas categorias "contida", "detectada" ou "estabelecida", sendo, portanto, uma invasora em potencial;
k) Fase de latência - período necessário para que uma espécie, sob determinadas condições, se adapte, passe a reproduzir e a disseminar-se;
l) Nociva ou peste - espécie invasora responsabilizada por danos causados ao ambiente, à biota local, à saúde humana e/ou à economia;
m) Vetor - meio pelo qual uma espécie é transportada de um local para outro;
n) Vetor potencial - provável vetor de introdução de uma espécie;
o) Rota de invasão - trajetória pela qual ocorreu o transporte de uma espécie introduzida, desde a área doadora até a receptora ou do local de origem até o destino.

Vetores da bioinvasão – denomina-se vetor àquele meio que serve de veículo para transporte de espécie(s) de um local doador para um local receptor. São vetores, segundo Souza et al (2009), retirado de CARLTON, 2001: navios, plataformas, diques secos, bóias de navegação e flutuantes, aviões-anfíbio e hidroaviões, canais, aquários públicos, pesquisa (científica ou não), detritos marinhos flutuantes, pesca, inclusive aqüicultura marinha (maricultura), aquários domésticos, restauração, educação (pelo descarte de espécies após uso em aula prática), equipamentos de recreação.

Vetores potenciais de introdução de organismos no ambiente marinho brasileiro, segundo Souza et al (2009), retirado do MMA, no prelo):


GruposVetores Potenciais
BiológicosÁgua de LastroMariculturaHomemCorrentes marinhasOrganismo marinhoAquariofiliaIncrustaçãoBóias de navegaçãoPlataformasCultivo científicoEmbarcações de recreaçãoEscape de cultivo
Bactérias pelágicas
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x







Fitoplâncton
x
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Zooplâncton
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x








Macroalgas
x
x










Zoobentos
x
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Ictiofauna
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 Quadro 01 – Vetores potenciais e Grupos biológicos
Fonte:Souza et al (2009)

A bioinvasão pode ser utilizada em estudos ecológicos para analisar as interações biológicas em populações e comunidades, e em estudos biogeográficos para compreender os padrões de distribuição da biodiversidade.

No Brasil – a bioinvasão pode ser separada em três fases: até o século XIX, século XX e a partir do século XXI, segundo Souza et al (2009):

SÉCULO XXI
- Mytilopsis leucophaeta, Tubastraea tagusensis, Tubastraea coccinea, Pseudopolydora achaeta,
   Myoforceps aristatus (2004)
- Phyllopodopsyllus setouchiensis (2002-2003)
- Bostricobranchus digonas, Omobranchus punctatus, Scrupocellaria diadema, Pseudopolydora diopatra,
  Polybius nabigator (2002)
- Derbesia turbinata, Derbesia tenuissima, Cladophora submarina, Chaetomorpha spiralis, Caulerpa
  nummularia (2001-2002)
- Leptocaris trisetosus, Halicyclops venezuelaensis, Leptocaris gurneyi, Apocyclops panamensis (2001-
   2002)
- Sphaeroma serratum, Caulerpa sc alpelliformis (2001)
SÉCULO XX
- Acanthurus monroviae, Pseudopolydora paucibranchiata (1999)
- Pilumnoides perlatus, Heniochus acuminatus, Butis koilomatodon, Paracyclopina longifurca (2000)
- Poydora cornuta, Boccardiella bihamata, Kappaphycus alverezii, Gymnodinium catenatum,
   Rhithropanopeus harrisii (1998)
- Anotrichium yagii (1997-98)
- Alexandrium tamarense, Taliepus dentatus (1996)
- Metapenaeus monocerus, Charybdis hellerii, Polydora nuchalis (1995)
- Isognomon bicolor, Pseudopolydora antennata (1994)
- Amphibalanus retuculatus (1990)
- Chromonephthea braziliensis (Década de 1990)
- Pyromaia tuberculata, Bellia picta (1989)
- Penaeus monodon (1987)
- Porphyra suborbiculata (1985)
- Coscinodiscus wailesi, Litopenaeus stylirostris, Pleopis schmackeri, Apocyclops borneoensis, Scylla
   serrata (1983)
- Chirona (Striatobalanus) amaryllis (1982) Temora turbinata (Década de 1980)
- Pseudodiaptomus trihamatus (1977)
- Litopenaeus vannamei (1971-72)
- Megabalanus coccopoma (1974)
- Crassostrea gigas (1970)
- Dasya brasiliensis (1963)
- Ciona intestinalis (1958)
- Ascidia sydneiensis (1956)
- Cancer pagurus (1930)
DESCOBRIMENTO DO BRASIL
- Vibrio cholerae 01 (1852, 1959, 1991, 1999)
- Styela plicata (1883)
- Perna perna (Séc. XVIII-XIX)

Por: Adelaide M. B.

REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA

SOUZA, Rosa Cristina C. L. de.; FERREIRA, Carlos Eduardo L.; PEREIRA, Renato Crespo. Bioinvasão Marinha. In: PEREIRA, Renato Crespo (Org.). Biologia Marinha. 2ª. Ed. – Rio de Janeiro : Interciência, 2009.